segunda-feira, 7 de agosto de 2023


Foto: juanma hache/Getty Images

Recentemente, o debate sobre a descriminalização da maconha voltou a ocupar lugar de destaque nas discussões políticas, sociais e de saúde pública no País, diante da retomada do julgamento sobre o porte da droga para consumo próprio. Iniciado em 2015, a votação foi retomada na última quarta-feira (2) e suspensa após o posicionamento do ministro Alexandre de Moraes, que votou a favor da liberação. Por enquanto, o placar é de 4 a 0. O relator, ministro Gilmar Mendes, pediu mais tempo para analisar os votos e estabelecer um “consenso básico” entre todas as ponderações.

A polêmica em torno dessa questão tem levantado argumentos tanto a favor quanto contra a mudança na legislação, entre especialistas. Para o médico psiquiatra e presidente da Associação Norte-rio-grandense de Psiquiatria, Ernane Pinheiro, legalizar a droga poderia gerar um aumento significativo do consumo, especialmente entre jovens e grupos vulneráveis. Pinheiro ressalta que, ao ampliar a disponibilidade da maconha, corre-se o risco de que mais pessoas experimentem e se tornem dependentes da substância, resultando em impactos negativos na saúde individual e coletiva.

“Podemos pegar como exemplos lugares como Canadá, alguns estados dos Estados Unidos, Portugal, Uruguai. Nesses lugares, começou-se a ter um consumo muito grande da droga porque as pessoas perdem a noção de que é algo grave. Passam a achar que é normal e aumentam o consumo. O tráfico aumentou em todos esses lugares em que houve a descriminalização. Outro fato importante é o aumento das doenças mentais. Além disso, o número de encarceramento também aumenta porque as pessoas passam a entrar em conflito com a lei”, opina.

O ministro Gilmar Mendes defende a declaração da inconstitucionalidade do artigo da Lei de Drogas, que versa sobre as penas para quem porta entorpecentes em geral. Para ele, a criminalização estigmatiza o usuário. Os ministros Fachin e Barroso acompanharam em parte, mas restringindo a descriminalização só para a maconha. Fachin propôs que a Corte estabeleça o porte de até 25 gramas de maconha ou a plantação de até seis plantas fêmeas como parâmetro para diferenciar consumo e tráfico. Moraes acompanhou essa vertente, avançando na proposta e sugeriu uma faixa de 25,99 a 62 gramas.

O STF julga a constitucionalidade de um dispositivo da lei que define como crime comprar, armazenar e transportar entorpecentes para uso pessoal. Embora seja considerado crime, o porte de drogas para consumo pessoal não leva à prisão. No julgamento, os ministros não vão tratar sobre a venda de drogas, que segue como ilegal. A pena para o tráfico de drogas varia de 5 a 20 anos de prisão.

Para Felipe Farias, ativista em defesa da cannabis medicinal e presidente da Associação Reconstruir, a descriminalização da maconha é uma medida importante para aprimorar a política de drogas no País. Ele acredita que a atual abordagem, baseada na repressão e criminalização, tem se mostrado ineficaz e contribuído para a superlotação do sistema carcerário, especialmente afetando comunidades marginalizadas.

“Quando eu não faço nenhum malefício a terceiros, não existe motivo de criminalizar essa pessoa. A gente defende o direito privativo dele de usar uma substância”, pontua. “O impacto é de que o policial vai de fato estar atuando para combater crimes, e não perder tempo com uma pessoa que está fazendo consumo pessoal numa praça, num evento. Existem prioridades e a polícia não pode perder tempo com isso porque não cabe a polícia investigar um consumo pessoal. A polícia vai ganhar tempo e ser mais eficaz onde ela é necessária, em relação ao tráfico e no combate a outros crimes”, complementa Farias.

O médico psiquiatra especialista em dependência química, Jair Farias de Oliveira, acredita que o foco deve estar em fortalecer a repressão ao tráfico de drogas e investir em programas de prevenção ao uso de substâncias ilícitas, visando conscientizar a população, sobretudo crianças e adolescentes. Para ele, a manutenção da maconha como substância ilegal é uma medida preventiva que busca dissuadir o consumo e proteger a sociedade de riscos de desenvolvimento de doenças da mente.

“O uso de maconha entre jovens é muito prejudicial. Sessenta gramas é muito? É. Se um adolescente começar a usar 60 gramas de maconha diariamente, ele vai ter uma perturbação. Isso favorece a um fator de risco para o aparecimento de doença mental, principalmente a esquizofrenia, mesmo sabendo que a esquizofrenia é uma doença multifatorial, genética, ambiental, psicológica, as teorias são as mais diversas”, comenta o profissional, que também dirige o Hospital Psiquiátrico Severino Lopes.

Reportagem completa na Tribuna do Norte

0 comments:

Postar um comentário

Minha lista de blogs

Postagens mais visitadas

JSON Variables

O Blog Afonso Bezerra em Pauta está chegando para te deixar bem informado, com notícias de credibilidade e impacilidade a serviço da nossa sociedade.

Postagem em destaque

Brasil registra 46 casos confirmados de intoxicação por metanol e 8 mortes

Foto: Reprodução O Brasil já soma 46 casos confirmados de intoxicação por metanol após consumo de bebidas alcoólicas, conforme divulgado pel...

Postagens mais visitadas

Arquivo do blog

TOTAL DE VISITANTES VISITANTES ON LINE

contador de acesso